ANÁLISE IMAGÉTICA DE ACORDO COM A GRAMÁTICA DO DESIGNER VISUAL (GDV)
A multimodalidade trata-se de um recurso
bastante utilizado nos dias de hoje e refere-se basicamente ao uso de aspectos
semióticos, isto é, linguagem escrita, visual, recursos sonoros, dentre outros,
para auxiliar na troca de informações entre as pessoas (GOMES; SILVA, 2018).
Dessa forma, em meio ao referido processo, a significação se dá partindo de
três elementos constituintes da multimodalidade, que segundo Kress e Van
leeuwen (2001, apud GOMES E SILVA, 2018), são: o design, a produção e a
distribuição. Os mencionados autores (2018) ainda corroboram ao explicar que, o
design está relacionado aos aspectos semióticos voltadas para o texto em si,
tais quais suas particularidades que vão desde cor, estilo da letra, utilização
de imagens, textos escritos, dentre outros, e quando ocorre sua ausência acaba havendo
a alteração da mensagem a ser comunicada.
Já no que diz respeito ao segundo recurso
(produção), é considerado pelos pesquisadores (2018 [2001]) como a
materialidade do texto, em que, essa etapa é possível por causa das escolhas
tomadas ainda durante a execução de design, que de certa forma, também
conseguem interferir na formação de sentidos; e a distribuição, trata-se da
maneira como ocorre a divulgação textual, etapa que também afeta as etapas
anteriores, bem como no processo de significação do texto (GOMES E SILVA, 2018,
apud KRESS e VAN LEEUWEN, 2001). Dessa forma, é possível perceber como tais
particularidades são relevantes para se entender um pouco mais acerca da
multimodalidade e como seus elementos atuam em detrimento do outro em algum
momento, apesar de também apresentarem suas diferenças.
Assim, Kress e Van
Leeuwen (1996) apresentam a Gramática do Design Visual (doravante GDV), apoiada
nas Gramática Sistêmico Funcional (GDF) de Halliday (1994), que de acordo com
Gomes e Silva (2018), o foco passa a ser, então, a consolidação de uma
estrutura diferente da tradicional e começa a se interessar pela análise da
produção de significados pelos mecanismos funcionais da língua. Com isso, a
GDV, criou algumas categorias que auxiliassem em suas análises, bem como a
metafunção representacional, interacional e composicional (GOMES, SANTOS E
LIMA, 2021) que serão observadas mais adiante. Nesse sentido, analisaremos a
seguinte imagem que viraliza na internet desde o ano 2004 em forma de meme e
posteriormente, como figurinhas de redes de relacionamento. Inclusive, a
escolha da referida imagem deu-se pela observação de um corpus com
particularidades notáveis, com materiais férteis para uma análise pelo viés da
GDV. Observe:
Na ilustração acima, podemos perceber uma
criança, aparentemente mais próxima à câmera fotográfica, apresentando gestos
faciais que à primeira vista, parecem maliciosos, considerando o contexto que a
imagem expõe, ou seja, a garotinha também se encontra posicionada na frente de
uma casa em chamas, enquanto os bombeiros, apesar não estarem bastante nítidos na
foto, tentam controlar o fogo. Entretanto a jovem aparece exercendo ação em
meio ao seu comportamento diante da imagem, exatamente onde fica evidente que o
meme em questão se trata de uma metafunção de representação narrativa
não transicional, tendo em vista que, segundo Gomes, Santos e Lima (2021,
p. 84) essa categoria “indica processos de ação e de interação entre os
participantes representados, ou seja, pessoas, animais ou objetos (nesse caso
humanizados) que estão presentes na imagem por meio dos processos de ação, de
reação, verbal/mental, de conversão, de simbolismo geométrico, entre outros” exatamente
o que acontece na imagem. Ademais, também envolve uma ação e reação como
consequência (ação: a casa pegando fogo; reação: a cara de sarcasmo e
satisfação da menina mediante ao que viu), acaba evidenciando nosso corpus
como uma representação narrativa reacional ao mesmo tempo em que a jovem
lança um olhar, para fora da imagem (GOMES; SILVA, 2018), sem deixar explícito
para quem a criança realmente está olhando e por isso, podemos classificá-la
como representação narrativa não transicional.
Assim,
é possível denominar também a imagem de acordo com os três tipos de metafunção,
isto é, representacional, interacional e composicional, características comuns
de qualquer tipo de imagem, e no caso de nosso objeto de análise, esses
elementos tornam-se evidentes, a vista que, a forma como a “Garota Desastre” se
manifesta está associada às relações entre o vetor (garota) e o leitor e isso
ocorre em virtude da imagem de demanda que traz o intuito, de certa
forma, de “cobrar” um posicionamento de seu interloucutor (GOMES;
SILVA, 2018). Também devemos considerar o enquadramento da garota quanto à
imagem com contraste, visto que, como já mencionado, ela se encontra
próxima à câmera, característica intitulada como enquadramento/distância
social, partindo ainda na Metafunção Interpessoal/Interativa, por
meio do plano médio da fotografia e perspectiva vertical, pois, há a
atribuição de poder por meio da participante apresentada, com modalidade
alta modalidade naturalista, pois traz aspectos realistas ao corpus e saturação
de riquezas nas cores e detalhes que se aproximam do que é real (GOMES, SANTOS
E LIMA, 2021).
Em
uma análise a partir da material da metafunção textual/composicional, os
elementos textuais para auxiliar em sua coerência, tornando-se notório que a
imagem é enfocada pela saliência com nitidez e tamanho posicionado no centro,
logo, a garotinha e suas expressões faciais são ressaltadas na imagem, por meio
do desfoque que aparece atrás da jovem, conseguindo relacionar-se com elementos
primordiais (GOMES; SILVA, 2018). Portanto, ficou claro como esses elementos
atuam no corpus escolhido e sua pertinência para uma análise de visual
mais aprofundada, mesmo com a imagem sendo somente um simples e conhecido meme.
REFERÊNCIAS
GOMES, Francisco Wellington Borges; SANTOS, Jaqueline Silva; LIMA, Caroline Bezerra. A mulher do calendário: um estudo semiótico sobre os estereótipos da figura feminina nas campanhas publicitárias da Campari. Texto Digital, v. 17, n. 2, 2021.
GOMES, Francisco Wellington Borges; SILVA, Ana Paula de Oliveira. Multimodalidade e persuasão em uma peça publicitária audiovisual. 2018.
KRESS, Gunter; VAN LEEUWEN, Theo. Multimodal Discourse: the modes and media of contemporary communication. London: Theo Hodder Education, 2001.
KRESS, Gunter. Reading Images: The Grammar of Visual Design.
Routledge: London. 1996.
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