PUBLICIDADE: MULTIMODALIDADE, INTERTEXTUALIDADE E PERSUASÃO EM UM TEXTO AUDIOVISUAL
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O termo publicidade, segundo os estudos
de Santos e Cândido (2017) originou-se da palavra publicus (em
latim) e sua significação está voltada ao fato de expor algo publicamente,
podendo ser desde fatos, ideologias, valores, à exibição de um produto. Ainda
de acordo com os referidos autores (2017), publicidade refere-se também à
“difusão de uma ideia que, através de algum meio de comunicação, busca
influenciar alguém a comprar algum produto ou serviço, criando nesse alguém o
sentimento de desejo pelo que é anunciado. Ela pode ser definida como a
promoção de ideias, produtos e/ou serviços, anunciada por um ser identificado,
com um público-alvo definido, e visando o lucro” (SANTOS E CÂNDIDO, 2017, pág.
4), evidenciando a relevância desse meio de informação para a atualidade,
principalmente no que diz respeito às grandes empresas. Sant'Anna et al.
(2013) corrobora ao confirmar que “sem publicidade não teria sido possível
o surgimento dos nossos grandes mercados de consumo que permitiram o
aparecimento da fabricação em série, base do desenvolvimento da indústria
moderna” (SANT'ANNA et al. 2013, p. 75), deixando ainda mais clara tal
afirmação.
Já o texto multimodal ou multimodalidade,
como explicam Gomes e Silva (2018), refere-se ao uso de vários aspectos
semióticos durante os processos interativos, sendo possível sua observação em
textos escritos, visuais, sonoros, gestuais, contribuindo para a formação de
significados principalmente durante leituras, não sendo classificada como uma
particularidade contida apenas em textos atuais, pois existe há bastante tempo,
sendo facilmente identificada em nosso dia a dia, visto que, com o
desenvolvimento tecnológico, o meio digital acabou expandido o uso dessas
ferramentas, principalmente no que se refere ao ensino da leitura e escrita
(GOMES E SILVA, 2018), tornando tais práticas mais dinâmicas e atraentes aos
alunos. Santos (2011 apud GOMES E SILVA, 2018) esclarece que “o estudo da multimodalidade
busca compreender como os jogos semióticos são usados em contextos sociais com
a intenção de comunicar. Esses jogos semióticos, em textos verbais escritos,
são as escolhas lexicais, as escolhas tipográficas como tamanho, cor e estilo
da letra, a organização do texto em parágrafos, o uso de figuras, dentre outros
recursos”. Quanto
à intertextualidade, Bazerman (2021 [2006]) diz que trata-se da “relação que
cada texto estabelece com os outros textos à sua volta” (BAZERMAN,2021, p.136);
sendo bastante utilizada em várias áreas com objetivos distintos e segundo os
estudos de Cury (1982), essa relação entre os textos pode ocorrer de maneira
implícita ou explícita. Nesse viés, Bazerman (2021 [2006]) em meios aos seus
estudos elaborou os níveis de intertextualidade que apresentam técnicas que
auxiliam em uma análise intertextual, assim como: 1. Citação direta;
2. Citação indireta; 3. Menção a uma pessoa, a um documento
ou a Declarações; 4. Comentário ou avaliação acerca de uma
declaração, de um texto ou de outra voz evocada; 5. Uso de estilos
reconhecíveis, de terminologia associada a determinadas pessoas ou grupo de
pessoas, ou de documentos específicos; e 6. Uso de linguagem e de
formas linguísticas que parecem ecoar certos modos de comunicação, discussões
entre outras pessoas e tipos de documentos (BAZERMAN, 2021 [2006]). Ademais,
Lim-Fei e Tan (2017) abordam o conceito de persuasão como elemento capaz de
influenciar as pessoas a algo, partindo de uma mensagem e estratégias utilizadas
em seu meio, tal qual ethos, logos e phatos, considerados pelo
autor como os três modos de apelo persuasivo. Dessa forma, Tellis (2004), também
apresenta seus aspectos persuasivos baseados nos elementos antes referidos,
isto é, argumento
(logos), que se subdivide em comparativo, refutacional, inoculativo,
suporte e enquadramento; emoção (phatos), que apresenta os modos
implícitos, explícitos e associativo, bem como seus métodos de despertar que
estão inclusos o drama, a história e a demonstração, os efeitos de humor que
podem ser afetados pela emoção partindo do humor, música, irritação,
cordialidade, medo e enobrecimento; endossar (ethos) que apresenta os
peritos/especialistas no assunto tratado na propaganda, celebridade contratada
e os leigos, tal qual as teorias que podem girar em torno da atratividade da
fonte, credibilidade ou transferência de credibilidade.
Assim,
analisaremos o vídeo de publicidade audiovisual buscando identificar a
intertextualidade, de acordo com a abordagem de Bazerman (2021 [2004]). Nesse
caso, apresentaremos primeiramente o videoclipe da música Thriller de
Miachel Jackson e posteriormente, um vídeo de um comercial da SKY (2013), que
possivelmente, serviu de inspiração para a propaganda. Observe:
No comercial da Sky (2013), o
vídeo em 4k recebeu o nome de Mansão Sky e o enredo, como o
próprio nome sugere, se passa em uma mansão assustadora, e a história é
iniciada com um lobo uivando quando um entregador de equipamentos da SKY bate à
porta, momento em que a melodia de Thriller (de Michal
Jackson) começa a tocar, seguidas de barulhos de morcegos, dando a entender que
partindo disso, algo assustador estava prestes a acontecer. Ao tocar
a campainha, o entregador é surpreendido, pois a porta abre-se sozinha e quando
entra, encontra seres sobrenaturais, bem como um quadro de uma mulher que o
observava, um homem segurando a própria cabeça, um fantasma, o esqueleto de um
cachorro que tenta lhe morder, um cavalheiro com sua armadura e zumbis, em que
todos tentam lhe atacar, no entanto, param quando uma bela moça (interpretada
pela modelo Gisele Bundchen) aparece no local, o encara, como se fosse morder o
pescoço do entregador SKY e beija seu rosto, agradecendo-o por levar os
equipamentos da operadora e em seguida, o rapaz desaparece da cena.
Posteriormente, o vídeo é interrompido
com uma frase que diz “Terror é não ter SKY”, anunciando o contato para
contratar seus serviços. E por fim, é retomada a cena da mansão, sobretudo,
todos os seres daquele ambiente se encontram sentados no sofá da sala e a
personagem interpretada por Gisele Bundchen afirma “Ainda bem que agora a
gente tem SKY, que essa casa estava meio morta, né?!”, causando espanto nos
outros seres ao entenderem a piada da moça, pois todos eles estavam de fato,
mortos. Por fim, aparece a atriz referida, mas sem as características da
personagem, falando “SKY, você na frente sempre”. Nesse viés,
analisaremos o referido comercial, tendo como referência o primeiro vídeo
exposto, de acordo com as ideias de Bazerman (2021 [2006]). Veja o quadro
analíticos abaixo:
Agora, analisaremos a mesma
propaganda baseando-nos em teorias de Tellis (2004), quanto a mensagem
apresentada e seus elementos persuasivos.
Portanto, conseguimos observar por meio do trabalho apresentado, que apesar de cada abordagem possuir suas designações próprias, na prática, muitas se assemelham quanto à sua função e desempenho mediante aos materiais semióticos ou audiovisuais/multimodais. Torna-se evidente, então, que por mais que ocorra tal compatibilidade entre as ideias de autores diferentes, de certa forma, quando utilizados simultaneamente, são capazes de atingir propósitos comunicativos específicos de maneira conjunta, auxiliando até mesmo no processo de significação de textos.
REFERÊNCIAS
BAZERMAN,
Charles. Gênero, agência e escrita; Angela Paiva Dionísio e Judith
ChamblissHoffnagel(Org.). Tradução e adaptação Judith ChamblissHoffnagel. 2 ed.
São Paulo: Cortez, 2021 [2006].
CURY,
M. Z. F. Intertextualidade: uma prática contraditória. Ensaios de Semiótica, nº
8, ano IV. Belo Horizonte: UFMG, 1982.
GOMES,
Francisco Wellington Borges; SILVA, Ana Paula de Oliveira. Multimodalidade e
persuasão em uma peça publicitária audiovisual. Entrepalavras,
Fortaleza, v. 8, n. 2, p. 55-79, maio/ago. 2018.
LIM-FEI,
V. & TAN, K.Y.S. Multimodal Translational Research: Teaching Visual
Texts. In: Seizov, O. & Wildfeuer, J. (eds.). New studies in
multimodality: Conceptual and methodological elaborations. London/New York:
Bloomsbury. 2017.
SANTOS,
Anderson Inácio dos; CÂNDIDO, Danielle. Por um conceito de Propaganda e
Publicidade: divergências e convergências. In:INTERCOM - SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DA COMUNICAÇÃO 40º CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. 2017.
Alguns pesquisadores focaram em pesquisar os elementos persuasivos que compõe uma publicidade, dentre eles, destacamos Tellis (2004) que visualizou três desses componentes que podem ser identificados também como atos retóricos, visto que o autor (2004) se apoiava em estudos, partindo do Modelo de Probabilidade de Elaboração de Cacioppo e Petty em 1985. Nesse viés, Tellis (2004) ressalta os seguintes aspectos: argumentos ( logos ), endossantes ( ethos ) e emoção ( phatos ). O primeiro deles (argumento/ logos ), “envolve a rota central da persuasão. Ele convence um espectador de uma mensagem apelando para a razão e confiando em evidências. O argumento prossegue na suposição de que há evidência objetiva. Os espectadores, especialmente se tiverem opiniões ou preferências contrárias à mensagem, provavelmente responderão com contra-argumentos” (TELLIS, 2004, p. 151). Dessa forma, há duas possibilidades de uma empresa fazer uso desse mecanismo, is...
Com a evolução dos meios tecnológicos, surgiram novas formas dos indivíduos se comunicarem (GOMES; SANTOS E LIMA, 2021). Em consequência disso, como afirmam Lim-Fei e Tan (2017), a sociedade passou a utilizar outros recursos que vão além de textos escritos, bem como elementos semióticos que também incluem o texto visual, que auxiliam no processo de significação, partindo de finalidades específicas, visto que “a escolha multimodal leva em conta como as escolhas de linguagem e imagem (assim como outras) cumprem os propósitos do texto, público e contexto, e como essas escolhas funcionam em conjunto na organização das ideias” (LIM-FEI E TAN, 2017, p. 5) e por este motivo, é facilmente encontrado nos dias de hoje sem muita dificuldade. Os estudiosos Jewitt e Kress (2003 apud LIM-FEI E TAN, 2017) propuseram modificações na alfabetização, logo, esse sistema era voltado somente para o alfabetismo alfabético, no entanto, posteriormente, se ampliou para o alfabetismo multimodal, que foca na...
Parabéns pela análise. O texto é muito claro e explicativo.
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